Era sábado à noite em Arcoverde. Eu, que havia ido ao Sertão de PE para trabalhar na produção da orquestra Original Olinda Style, estava muito a fim de assistir aos shows de Tibério Azul e Lirinha, que tocavam antes da gente. Com meu vestido preto de bolinhas brancas, toda arrumadinha e com minha mochila de trabalho, fui para o meio do público sozinha para ver e ouvir Tibério. Não bebia, não fumava, apenas contemplava.
Ainda na primeira música fui abordada por quatro policiais. “Posso ver sua bolsa?”, perguntou a PM mulher. Eu, prontamente, disse: claro. Abri e ela apontou a lanterna para dentro. “E essa bolsinha verde aí? Abre ela”. Abri.
Parênteses: minha bolsinha verde tem de tudo: durex, clips, grampeador, bandaid, batom, dorflex, omeprazol, bloquinhos, caneta etc... Um misturado de muitas coisas que podem ser úteis.
Para minha surpresa, a PM Roberta ataca: “Vamos para a viatura que preciso analisar essa sua bolsa melhor.”
Como assim, ir para a viatura? Prontamente mostrei minha credencial, me identifiquei como produtora, disse que estava trabalhando no evento. Convidei os policiais para irem no backstage comigo, afinal não havia motivo algum para eu ser encaminhada à viatura. Eu era suspeita de quê? Estava fazendo o quê de errado?
Despreparados e sem o mínimo de bom senso, os policiais disseram: “a senhora vai para viatura sim. Ao contrário, estará cometendo um desacato à autoridade ”. Não acreditava no que estava acontecendo. Bati o pé e disse em alto e bom tom NÃO VOU! Foi o suficiente para dois dos policiais me pegarem pelos braços com força.
Estava sozinha neste momento. Entrei em pânico. Afinal, o histórico da polícia brasileira não nos inspira confiança. Resisti sim. Não por desacato. Mas por medo. Estiquei o pescoço a procura de alguém conhecido. Achei. E, de repente, estava o rebu formado. Os policiais à minha volta. Amigos tentando entender o que estava acontecendo. E eu, coagida e sem escolha. Antes de decidir me encaminhar à viatura, sacodi os braços, revoltada e esbravejei: LARGUEM O MEU BRAÇO! VOU NA FRENTE E VOCÊS ME ACOMPANHAM ATRÁS. Passei no meio de pelo menos mil pessoas como uma criminosa, seguida por policiais atentos à minha possível fuga (assim pensavam eles...)
O que veio depois, não vale a pena contar aqui. Fui “solta” após ser enquadrada por desacato e usuária (1 baseado) . Voltei ao trabalho.
Este texto, que fique bem claro, não é para afirmar o meu posicionamento em relação à luta social em favor da descriminalização da maconha (esta é uma outra parte – e que não me diminui profissionalmente, principalmente no meio em que trabalho).
É para mostrar a minha indignação com o despreparo da polícia militar brasileira. Fui vítima de violência institucional. No momento da abordagem não oferecia nenhum risco à sociedade. E, por que eu teria que ir à viatura? O que despertou a suspeita sobre mim? Por que fui segurada pelos braços? Quem desfaz o constrangimento social que passei? E quanto aos boatos que surgiram diante da minha instantânea e rápida detenção?
Quando voltei ao backstage para trabalhar, percebi que a polícia havia colocado em risco a minha moral pessoal e profissional. Ouvi coisas absurdas: “Aline bateu nos policiais; Aline portava 50 gramas de maconha; Aline desacatou a autoridade...” NADA DISSO É VERDADE.
A verdade é que esbarrei, por acaso, na truculência policial de nosso país. E hoje, como cidadã questiono: onde está sendo aplicado o investimento de treinamento da polícia? Pago meus impostos para ter uma polícia que me proteja, e não que me agrida, coaja, intimide e me humilhe.
O primeiro passo de auto-proteção acaba de ser feito com esta publicação: joguei um anti-vírus no vírus do boato. Segundo passo: farei a denúncia contra a polícia militar de Arcoverde no Mistério Público. Sei que não é muito, mas é o pouco que me cabe.