Aline Feitosa

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20.2.12

Reflexões sobre os palcos do Carnaval e o poder público

Estou no pé da ladeira. Subo sem ardor nas canelas, sem sentir o desgasto, porque da forma que vou só o folião do carnaval de Olinda entende: levada ao som da Orquestra, no corpo a corpo, na emoção do povo. Trabalhar com música tem sido assim: uma ladeira maior que a da Misericórdia, mais íngreme que a da Sé, e que ao chegar ao topo encontro vento no rosto e um estado de espírito contente. 
A parte mais difícil da subida, portanto, são os pedregulhos que rolam abaixo e quase te acertam. A gente dribla com ginga e elegância, sem deixar se abalar. Mas sempre pensando e questionando que esses obstáculos não precisariam existir. Que a vida na música bem que poderia ser mais fácil e melhor entendida, respeitada e observada como um dos maiores bens da humanidade.


Vamos a estes pedregulhos que rolam e tentam acertar a nossa íngreme caminhada durante o Carnaval (e em outras épocas do ano também, geralmente quando se trata de eventos produzidos pelo poder público):


- O pior deles: ser contratado para um show e chegar num palco sem a menor condição de trabalho. Por fim, voltar pra casa sem tocar e deixar o povo lá embaixo sem informação, sem música boa. Sim, todo músico e produtor quer mostrar com qualidade o trabalho que constrói no dia a dia. Porque um show não se faz em um dia.  Porque é muito triste ver o dinheiro público ser usado sem compromisso. 


- Ser agredida verbalmente e puxada pelo braço pela produção de Lulu Santos, que atropela quem estiver no caminho e não sabe pisar em terra alheia. Se acham superiores não sei por quê. Isso não faz parte do meu mundo. E não deveria fazer parte de nenhum mundo; Morgado... Sou da turma do abraço, da gentileza, do sorriso, tudo aliado em muito bom tom com o profissionalismo. Mas, pensando bem, tem gente ruim e estressada por louvor em tudo que é canto, né? Não os quero perto de mim...


- A falta de compromisso dos contratantes de carnaval o os artistas é infinita. Realmente é preciso tirar o chapéu para a estrutura oferecida pela Prefeitura do Recife nos palcos descentralizados. E, o Marco Zero é de fato um luxo para qualquer artista e produtor: compromisso, pontualidade, equipe técnica de primeira linha, diretores de palco e backstage super profissionais. Aí a gente chega lá em cima e mostra o trabalho com dignidade. Mas aí, no dia seguinte segue para tocar em Jaboatão dos Guararapes e, por falta de equipamentos no palco,... precisa cancelar o show. Do luxo ao lixo. Precisa mesmo isso acontecer com tanto dinheiro rolando nas entranhas da política?


- Quem tem mais pedregulhos para quebrar, que deixe aqui, porque sozinho não se constrói túneis, não se sobre ladeira, não se faz música...
Bom Carnaval a todos!